Tanatofobia: o medo excessivo da morte

“Quem não tem medo da vida também não tem medo da morte” (Arthur Schopenhauer)

Segundo Almeida, morte e vida coabitam o intrincado tecido biológico, físico, mental, psicológico e espiritual que constitui a identidade de cada pessoa desde a nossa concepção. A morte é também o grande mistério que compõe a vida.

Há uma área do conhecimento, a Tanatologia, que se dedica a estudar e compreender esse fenômeno denominado morte em suas particularidades e/ou outros fenômenos a ela relacionados. A palavra Tanatologia origina-se do grego “Thánatos” que na mitologia grega representa a morte.

Dentre os estudos que compõem a Tanatologia, a Psicologia e a Psiquiatria se dedicam a compreender as reações psíquicas relacionadas ao fator morte. Uma dessas reações é a Tanatofobia, ou seja, quando um indivíduo desenvolve uma fobia a tudo o que se relaciona à morte e ao morrer. A Tanatofobia ou Necrofobia é o medo excessivo da própria morte e/ou de outras pessoas que façam parte da rede social do indivíduo. A pessoa pensa excessivamente na morte e pensamentos relacionados a esse fenômeno pairam em sua mente a todo momento, causando-lhe muita ansiedade e impactando negativamente seu cotidiano. Muito frequentemente o indivíduo evita ir a um funeral e recusa-se a ouvir histórias de pessoas que morreram, mesmo que estas sejam próximas da família.

Com efeito, todos nós tememos a morte de alguma maneira. Afinal, é uma tendência natural do ser humano temer o desconhecido e esta é uma preocupação legítima. Temer a morte, até certo grau, é saudável. Pois, se você não teme a morte, você pode colocar a sua vida e a de outras pessoas em muitos perigos significativos que, de fato, podem ameaçar a vida. Quando falamos que uma pessoa possui Tanatofobia é porque ela, todos os dias, pensa na possibilidade de morrer a qualquer momento. É um pavor mórbido da morte. A ideia de deixar de existir se torna uma fonte de estresse intenso. Outra ideia que causa muito terror é sobre a deterioração do seu próprio corpo no túmulo. Por isso, nós somente consideramos fobia com relação à morte e ao morrer quando esta altera drasticamente o modo como o indivíduo vive sua vida cotidiana.

Os sintomas mais comuns de uma pessoa que sofre de Tanatofobia são:

Físicos: Palpitações, náuseas, tremores, sensação de asfixia. Ao receber a notícia da morte de alguém e/ou se deparar com um funeral o indivíduo pode ter: taquicardia, sudorese e pode começar a tremer copiosamente. Durante este episódio de pânico intenso o indivíduo pode ter a sensação que está prestes a morrer, o que é um verdadeiro pesadelo para um tanatofóbico.

Emocionais: Desejo de fugir e escapar da situação atual que está lhe causando sofrimento, evitação extrema, preocupação persistente e pensamentos aterradores ou esmagadores. Medo de visitar hospitais. Por medo o tanatofóbico pode tornar-se mais relutante em deixar sua casa, dirigir, usar o transporte público, voar ou realizar qualquer uma das inúmeras atividades que possam ser interpretadas de forma irracional como perigosas ou mortíferas. Além disso, raiva, tristeza e culpa também podem estar presentes.

Mentais: Perda de sensibilidade e controle – medo de enlouquecer com reações automáticas ou incontroláveis, repetição de pensamentos sangrentos, incapacidade de distinguir entre realidade e irrealidade.

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Como em qualquer outra fobia, não existe uma causa única e específica para o desenvolvimento da Tanatofobia. Vários eventos traumáticos, circunstâncias e crenças podem levar ao desenvolvimento deste transtorno psicológico. As causas mais comuns para o desenvolvimento dessa fobia são:

Uma experiência traumática – a pessoa pode ter vivenciado uma experiência anterior em que ela fora exposta à ameaça de morte. Estas podem estar relacionadas a acidentes, desastres, doenças gravíssimas, ataques violentos e/ou abusos. E, desde então, a pessoa associou a vivência de emoções negativas com a ideia de morte.

O indivíduo pode ter testemunhado um ente querido morrer em profundo sofrimento.

Fatores religiosos – esta fobia pode ser associada à religião. Pois, a maioria das religiões professadas possuem diferentes explicações sobre a vida após a morte – o paraíso e o inferno. Alguns indivíduos podem desenvolver esta fobia ao internalizarem uma ideia errônea sobre maldade e pecado, e começam a temer o que poderá ocorrer com eles após a morte.

Quanto ao diagnóstico, este deve ser realizado por um especialista em saúde mental, devidamente treinado para isto, uma vez que vários fatores e complicações possíveis podem estar associados ao transtorno. Às vezes, esta fobia existe concomitantemente com outros distúrbios psicológicos ou comportamentais. Por isso, é importante que o indivíduo que esteja vivenciando esta fobia procure ajuda de um profissional de saúde mental.

Assim como outras fobias, a Tanatofobia pode ser tratada. Um processo psicoterapêutico poderá auxiliar o indivíduo a assimilar os motivos que o levaram a desenvolver tal fobia – não a reprimindo farmacologicamente ou de outra forma, embora em casos graves isso possa ser temporariamente necessário – mas sim compreendendo as causas reais de seu transtorno. A psicoterapia auxiliará na compreensão de fatores que podem agravar ou perpetuar os sintomas fóbicos.

Técnicas de relaxamento e respiração também podem ser muito úteis no tratamento de fobias. Grupos de apoio para pessoas tanatofóbicas podem ajudar. Pois, o indivíduo poderá compartilhar experiências com pessoas com o mesmo problema e juntas podem encontrar ferramentas interessantes para controlar tamanha ansiedade.

A Tanatofobia é uma fobia complexa. No entanto, o prognóstico é geralmente positivo. As pessoas diagnosticadas com esta fobia e que optam por tratamentos psicoterápicos conseguem lidar e, frequentemente, superar seus medos irracionais sobre a morte e o morrer. O apoio da família e dos amigos é sempre de fundamental importância para ajudar o tanatofóbico a lidar com as crises de pânico. Na maioria dos casos, o tratamento é bem-sucedido e os pacientes tornam-se capazes de viver suas vidas satisfatoriamente.

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Psic. Mestre em Cuidados Paliativos
Psic. Especialista em Perdas e Luto
Especialista em Psicologia Hospitalar
Psychotherapist Member of British Psychological Society (MBPsS/GBC)
Blog Perdas e Luto

Livro à Venda Autora do Livro: Legado Digital: Conhecimento, Decisão e Significado – Viver, Morrer e Enlutar na Era Digital

Referências:

Almeida, Miguel. Quem (não) tem medo da morte? O Observador [site]. Nov. 2016. Disponível em:
http://observador.pt/opiniao/quem-nao-tem-medo-da-morte/

Fear of. [site]. Fear of Death Phobia – Thanatophobia. Disponível em: http://www.fearof.net/fear-of-death-phobia-thanatophobia/

Life Persona [site]. Thanatophobia or Necrophobia: Symptoms, Causes and Treatments. October 2015. Disponível em:
https://www.lifepersona.com/tanatophobia-or-necrophobia-symptoms-causes-and-treatments

Diamond, Stephen A. Got Death Anxiety? Got Death Anxiety? Coming to terms with mortality. Psychology Today [site] May 2016. Disponível em:
https://www.psychologytoday.com/blog/evil-deeds/201605/got-death-anxiety

8 comentários sobre “Tanatofobia: o medo excessivo da morte

  1. Eu tenho um medo muito grande de perder meu filho..
    Eu chego até ter medo de levá- lo ao médico, pois temo de saber alguma doença que o leve a morte.
    Eu penso todas as noites se meu filho tem algum tipo de doença.
    Eu sofro demais com esses pensamentos.

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    • Olá Jéssica! Todas as mães, de certo modo, possuem medo que seus filhos morram. Esse é um sentimento natural devido ao vínculo afetivo entre ambos. No entanto, quando esse medo causa sofrimento, então, precisa ser tratado. Seria interessante você poder conversar com um profissional para compreender a origem desse medo e assim, ter uma relação mais tranquila com seu filho. Abs, Nazaré Jacobucci

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  2. Eu tenho ataques de pânico relacionados ao medo excessivo da morte em si, tanto em as pessoas morrerem, quanto á minha própria morte desde os meus 9 anos (Tenho 17 anos agora). No entanto, esses últimos meses eles tem acontecido com muita frequência, ao ponto de eu passar dias chorando por não conseguir viver no ” agora” sem tudo se remeter a morte ou a o fato de que vou perder as pessoas. Tem sido extremamente difícil conseguir ” viver normalmente”. Agradeço a vocês pela publicação porque me fez ter uma ideia de que eu tenho algo, e que pode ser tratado, agora só falta eu ir atrás de um psicólogo.

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    • Olá Andri! Todos nós temos medo da morte, mas quando esse medo nos impede de viver e traz consequências para nossa vida cotidiana, então, precisamos de ajuda profissional. Caso queira, pode me enviar um e-mail, pois tenho vários pacientes na mesma condição que a sua. Abs, Nazaré Jacobucci

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  3. Oi, ultimamente tenho tido um medo irracional da morte. Tenho medo de morrer mas principalmente tenho medo de perder minha esposa, meus filhos..
    já não sei mais viver o presente e tenho evitado ter momentos de prazer com minha família pelo medo da perda e do sofrimento. Acho que nunca vou me curar disso 😦
    Esse texto é maravilhoso, obrigada por ter disponibilizado ele aqui. Tenho certeza que trará um certo alívio a muitos. Abçs

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    • Olá Viddel! Bom saber que meu texto lhe foi útil. Mas caso você perceba que o seu quadro de medo sofra uma piora, prejudicando o seu cotidiano; procure ajude profissional. Um profissional qualificado poderá te ajudar a manejar esse quadro de pânico frente à morte. Abs, Nazaré Jacobucci

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  4. O texto é excelente!
    Meu nome é Isabela, tenho 20 anos e há dois anos tenho sofrido com esse medo excessivo da morte.
    O meu medo se intensifica quando me imagino perdendo meus pais, faço de tudo para ter o controle e só me sinto segura quando estão em casa. Perdi interesse em viagens, passeios, e sinto medo até mesmo em saídas do cotidiano. Tudo soa como uma ameaça para mim. Eu sinto uma angústia inexplicável só de pensar em viajar, pegar estradas ou qualquer coisa do tipo.
    Isso tem me impedido de viver o hoje, pois minha preocupação extrema não me deixa experienciar uma coisa de cada vez. Os meus pensamentos são sempre negativos.
    Isso tem me feito muito mal… como se as pessoas estivessem vivendo, e eu presa nos meus pensamentos.

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