Como lidar com a dor do luto durante as festividades do final do ano

“Todos os dias é um vai-e-vem. A vida se repete na estação. Tem gente que chega pra ficar. Tem gente que vai pra nunca mais. Tem gente que vem e quer voltar. Tem gente que vai e quer ficar. Tem gente que veio só olhar. Tem gente a sorrir e a chorar. E assim, chegar e partir” (Encontros e Despedidas – Milton Nascimento)

Estamos vivenciando uma das épocas mais significativas do ano. O Natal e o Ano Novo são, para a maioria das pessoas que vivem no ocidente, um momento de estar com a família e com amigos queridos. Não podemos esquecer que a essência do Natal está justamente no partilhar de afetos com aqueles que amamos.

Contudo, o Natal, mais especificamente, também pode ser um momento desconcertante e dificílimo de ser vivenciado, principalmente para as famílias que sofreram a perda, recente ou não, de um ente querido, pois esta época também é de nostalgia e recordações. Podemos ser invadidos por uma enxurrada de emoções e sentimentos diante da ausência de alguém que amamos. Também não podemos nos esquecer que há pessoas que morrem, infelizmente, durante o Natal e no Ano Novo.

Muitas vezes, familiares e amigos das pessoas que sofreram uma perda não tem certeza de como agir ou o que dizer para apoiar alguém em processo de luto. Nestes momentos, surgem perguntas tais como: Como vou lidar com isso? Como devo agir?

O próprio enlutado muitas vezes se sente perdido diante do turbilhão de emoções que está vivenciando: Como vou fazer tudo que eu preciso fazer quando estou tão triste? Será que serei capaz de sobreviver a esta época do ano?

É claro que precisamos sempre ter em mente que não existe um modelo único para todas as pessoas que perderam um ente querido. Cada indivíduo sentirá a perda de uma forma distinta e cada membro da família demonstrará a sua dor de uma forma diferente. Abaixo seguem algumas das minhas reflexões para que possamos refletir sobre este momento tão especial do ano.

  • Tudo bem não estar bem!
  • Permita-se sentir a dor. Permitir talvez seja a palavra-chave. Permita-se sentir tristeza num momento em que todos estão alegres, afinal você está vivenciando a ruptura de um vínculo. Aceite seus pensamentos e sentimentos. Não tente racionalizar emoções tão fortes. Elas ocorrem porque perdemos, fisicamente, alguém que amamos, mas esta pessoa ainda está viva em nossos pensamentos e memórias. Fale das suas emoções, dos seus sentimentos e inquietudes.
  • Não há problema em reconhecer isso e reconhecer sua dor, apatia e tristeza. Você não precisa esconder seus sentimentos para o benefício de outras pessoas. Você não é responsável pela felicidade de nenhum outro adulto.
  • Permita-se dizer não. Você não tem a obrigação de aceitar todos os convites. Faça o que for possível e o suficiente. Faça tão somente aquilo que fizer sentido para você e te trouxer um significado.
  • Encontre uma forma, mesmo que simbólica, de recordar o ente querido que morreu. Procure criar uma maneira, um espaço ou um momento e tempo específico para rememorar a pessoa que morreu.
  • Invente novas tradições. Às vezes, mudar as tradições pode ser uma decisão mais acertada. Por exemplo, se o jantar de Natal sempre ocorreu em sua casa, sai para jantar e/ou almoçar com seus familiares. Escolha um restaurante agradável e usufrua ao máximo desse momento em família.
  • Permita-se sentir alegria. Às vezes, quando estamos sofrendo, podemos ter um momento de leveza. Uma coisa engraçada acontece e nós sorrimos. Deixe a alegria e o riso acontecer! Não repreenda a si mesmo por se sentir feliz em seu processo de luto.
  • Gratidão! Encontrar algo para ser grato não apaga os pensamentos, memórias e emoções difíceis que você está experimentando, mas pode simplesmente ajudar a equilibrar sua perspectiva sobre o viver. Equilibrar sua perspectiva é importante. Encontrar gratidão não precisa ser complicado. É simples, na verdade. Tudo que você tem que fazer é prestar atenção à sua volta. Com certeza você encontrará algo para ser grato, como um sorriso de uma criança, uma memória feliz, uma xícara de chá quentinha, um banho reconfortante, ou por poder sentir o cheiro de uma flor.

  • Seja compreensivo. Eu penso que o primeiro quesito quando estamos ao lado de um enlutado é que sejamos compreensivos e solidários com a dor do outro. Então, ofereça-se para ajudar com alguns afazeres típicos dessa época, tais como, por exemplo, cozinhar um prato especifico para o almoço de Natal. Esta é uma ótima maneira da pessoa se sentir acolhida e saber que você se preocupa com o bem-estar dela. Se preferir, convide esta pessoa para almoçar em sua casa.
  • Esteja disponível para ouvir o enlutado. Não evite alguém só porque você não sabe o que dizer. A escuta ativa dos amigos e da família é um passo importante para ajudar alguém a lidar com a dor e os sentimentos da perda. Deixe-os compartilhar suas emoções e sentimentos. É de extrema importância que o enlutado se sinta acolhido em seu momento de dor e angustia.

Enfim, o Natal será para todo o sempre diferente depois de uma perda significativa. Faz parte do processo de luto compreender as emoções que estas datas nos proporcionam e, na medida do possível, se reorganizar emocionalmente para vivenciá-las. A morte de um ente querido implica necessariamente numa profunda mudança de paradigmas em nossas vidas e na forma como vamos continuar a caminhada. Talvez você encontre uma nova forma de vivenciar estes momentos, pois a elaboração do luto passa pela assimilação da ausência com a celebração com aqueles que estão vivos e fazem parte da nossa existência.

“A esperança é o único bem comum a todos os homens; aqueles que nada mais têm ainda a possuem” (Tales de Mileto)

Psic. Mestre em Cuidados Paliativos (M.Sc.)
Psic. Especialista em Perdas e Luto
Especialista em Psicologia Hospitalar
Psychotherapist Member of British Psychological Society (GMBPsS)
Blog Perdas e Luto (Instagram)

Autora do Livro: Legado Digital: Conhecimento, Decisão e Significado – Viver, Morrer e Enlutar na Era Digital

Referências:

Efferson, A.D.P. Some Ways To Cope With Grief During The Holidays. The Federalist. 2015

The hospice Insider. Feelings of Grief and Loss can be Heightened During the Holidays. 2014

40 comentários sobre “Como lidar com a dor do luto durante as festividades do final do ano

    • Olá Olinda! Sinto muito pela sua perda. A elaboração de um luto pode demorar um certo tempo, isto é normal, o importante é você vivenciar todos os sentimentos advindos desse processo com tranquilidade. Espero que você consiga ressignificar esta perda. Abs, Nazaré Jacobucci

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  1. Ola meu nome è luciana.meu filho morreu dia 5 de outubro de 2015.estou arrasada choro muito.ele tem 26 anos.toda saude do mundo,teve um aneorisma cerebral e teve morte cerebral.doamos os orgãos dele.mas nao me conformo ,ja pensei em me matar.

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    • Olá Luciana! Eu sinto muito pela sua perda. Um processo de elaboração de um luto por morte de um filho pode demorar um longo período, mas acredite é possível ressignificar esta perda. Não sei se você possui Facebook caso sim, por favor, acesse a página “A Arte de Morrer e Luto” lá eu publico vários artigos interessantes e, inclusive, há vários de mães que superaram a morte de seus filhos. Abs, Nazaré Jacobucci

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    • Luciana, a perda de um filho não tem “Nome”. Eu tinha somente um filho e faleceu em um acidente automobilístico com 22 anos no dia 12-04-2015, nunca pense em matar, por que ele quer que você continue com seu trabalho aqui na terra, o “Suicídio” não e o caminho para essa dor.

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    • Luciana, a perda de um filho não tem “Nome”. Eu tinha somente um filho e faleceu em um acidente automobilístico com 22 anos no dia 12-04-2015, nunca pense em matar, por que ele quer que você continue com seu trabalho aqui na terra, o “Suicídio” não e o caminho para essa dor. Feliz Natal e muita luz e paz.

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  4. Colocações perfeitas tanto para o enlutado como para os mais próximos. Momento realmente difícil, minha opinião: seja verdadeiro com seus sentimentos e permita-se estar triste e pela ausência , tanto como feliz pelas demais presenças . Permita-se! 😊

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  5. Meu filho morreu tragicamente em um desastre automobilístico em 12/12/2012. Dia fatídico. Ha pouco retornei do cemitério, onde vou com frequência “visitá-lo”. Só outro pai que já perdeu um filho que tanto amava (31 anos), sabe a dor e saudade que sinto, o que a cada dia me envelhece, entristece, esmorece, desfalece… Que saudade do meu filho Andrei, meu Deus, só o Senhor sabe de tudo.

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  6. Bom dia
    Minha mãe faleceu dia 11 de novembro, com 83 anos, sonho com ela seguido, sofro muito, não durmo quase, as vezes passo mais de 40 horas acordada mesmo tomando 2 tipos de medicamentos para dormir, e quando durmo, tenho vontade ficar na cama dias. Me sinto triste, mas fico extremamente irritada.

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  7. Eu perdi meu bebê estava grávida de 3 meses e vi ele caindo de mim e depois no chão, estava todo formadinho e perfeito. Essa cena não sai da minha cabeça.Tenho uma filha de 17 anos que o pai dela morreu quando eu estava grávida dela de 2 meses. Eu amava muito aquele homem com passar do tempo superei. Estou com 42 anos em fevereiro faço 43. Já estava achando que não ficaria mais grávida me conformei com os netos que viriam. Mas então, tive uma surpresa fiquei grávida descobri com 8 semanas como fiquei feliz e todos que me conheciam também pois sabiam do meu desejo. Então, ele meu sonho se foi. Como dói…
    Tem uma semana que só choro e não adianta ninguém falar nada porque mesmo sendo tão pequenino era meu amado filho. Quero que essa dor passe.

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    • Olá Adriana! Sinto muito por sua perda, meus sentimentos! A sua perda é muito recente, por isso tenha paciência para com os seus sentimentos. Um processo de luto requer momentos de introspecção, eu penso que você esteja vivenciando este momento agora. Abs, Nazaré Jacobucci

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  8. Muito obrigada Nazaré. Acabei de ler seu texto e fiquei confortada. Hoje estou sentido tudo isso que você descreve. Mas tenho minhas filhas meu
    neto e meu marido comigo, que fazem me sentir forte e agradecida
    Por eles existirem.
    Um grande abraço, e feliz Natal e um Ano Novo cheio de realizações!!!

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  9. Nazaré obrigada por ajudar a nós que sentimos essa dor! Minha mãe já fez um ano , no começo pensei que não iria aquentar tanta dor, fiquei muito perdida ainda estou mas bem melhor! Sei que iria acontecer pois, é normal as nossas mães irem um dia, mas a sensação é que foi muito rápido, eu tinha tanto cuidado com ela quando vejo pessoas da idade dela ou mais velhas e os filhos não são tão presentes me dói muito, pois gostaria tanto que ela estivesse comigo só mais um pouco, não sofrendo em uma cama isso não. Agradeço a Deus por minha mãe não teve a dor de ter perdido um filho, sofreu muito por eles. Ela tinha tanto medo de morrer e deixar eles. Hoje choro menos, mas tudo aonde vou penso nela, as pessoas falam para que eu viva e realize meus sonhos, meu sonho era junto a ela. Tenho muito o que falar dela. Só peço a Deus ajuda para aumentar minha fé.

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